Por Candice Schmidt, médica-veterinária do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) de Teutônia Uma dúvida recorrente é se o novo coronavírus pode...

P or Candice Schmidt, médica-veterinária do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) de Teutônia


Uma dúvida recorrente é se o novo coronavírus pode ser transmitido por meio dos alimentos. No entanto, até o momento, não há evidências de transmissão do coronavírus por meio de alimentos. A Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos (European Food Safety Authority – EFSA), quando avaliou esse risco em outras epidemias causadas por vírus da mesma família, concluiu que não houve transmissão por alimentos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o comportamento do novo coronavírus deve ser semelhante aos outros tipos da mesma família, no que diz respeito a formas de transmissão. Assim sendo, ele precisa de um hospedeiro —animal ou humano— para se multiplicar. Além disso, esse grupo de vírus é sensível às temperaturas normalmente utilizadas para cozimento dos alimentos (em torno de 70ºC).

A dinâmica dessa pandemia mostra que a transmissão tem ocorrido de pessoa a pessoa, pelo contato próximo com um indivíduo infectado ou por contágio indireto, ou seja, por meio de superfícies e objetos contaminados, principalmente pela tosse e espirro de pessoas infectadas.

Mesmo sem evidências de que o vírus pode ser transmitido através de alimentos, devemos levar em consideração o fato de que o vírus pode persistir por poucas horas ou vários dias, a depender da superfície, da temperatura e da umidade do ambiente, mas é eliminado pela higienização ou desinfecção, o que evidencia a importância do reforço de cuidados com a higiene, incluindo na manipulação de alimentos. Se pensarmos nesse sentido, as embalagens de alimentos e alimentos não embalados expostos em gôndolas poderiam servir de veículo para transmissão do vírus. Sendo assim, uma das estratégias mais importantes para evitar a exposição e minimizar o risco é redobrar os cuidados com a higiene.

Os cuidados básicos na manipulação de alimentos também previnem uma série de outras doenças que podem resultar em necessidade de atendimento médico e hospitalar. De fato, esse não é o momento para utilizar o sistema de saúde com doenças que podem ser prevenidas pela higiene no momento da aquisição, manipulação e preparo dos alimentos.

Cuidados básicos de higiene nos serviços de alimentação e nos ambientes domésticos

1 – Limpeza das mãos

Antes de manusear qualquer alimento é fundamental lavar as mãos corretamente com sabão/sabonete e bastante água corrente, não esquecendo as regiões entre os dedos, pontas dos dedos, dorso das mãos, pulsos e antebraços. Álcool em gel ajuda na desinfecção, mas não substitui a lavagem cuidadosa das mãos. Está comprovada que a medida mais importante e eficiente para prevenir a transmissão do coronavírus é a lavagem correta das mãos. O uso de luvas não substitui a lavagem das mãos. Quando a higienização das mãos é feita corretamente, não há necessidade de colocar luvas para manusear alimentos em casa.

2 – Limpeza na cozinha

As informações sobre o tempo de persistência do coronavírus SARS-CoV-2 em superfícies são ainda controvertidas. Alguns estudos científicos com outros coronavírus indicam persistência em metal, plástico e vidro por até 9 dias, enquanto outros mencionam 24h em papelão e 3 dias em plástico para o coronavírus SARS-CoV-2. No entanto, os coronavírus são inativados rapidamente pelo contato por um minuto com álcool etílico 62-71% ou hipoclorito de sódio 0,1%.

Em tempo de COVID-19, as recomendações de higiene e limpeza são as mesmas de sempre, e devem ser seguidas criteriosamente. Bancadas, pias, louças e demais utensílios devem estar sempre limpos e secos, sem resíduos de alimentos. As paredes, chão e tetos devem ser limpos e higienizados com regularidade, com água, sabão e sanitizantes ou água sanitária. Esses procedimentos evitam a presença dos micro-organismos indesejáveis na cozinha, inclusive o coronavírus SARS-CoV-2. Evitam também a contaminação cruzada, ou seja, a transferência de micro-organismos do ambiente ou de alimentos contaminados para alimentos não contaminados.

É importante lembrar que existem diversos microrganismos causadores de doenças capazes de se multiplicar em baixa temperatura, mesmo que muito lentamente. Dados oficiais no mundo inteiro mostram que a maioria das gastroenterites de origem alimentar e as intoxicações alimentares têm origem nos domicílios, sendo, portanto, muito importante seguir essas recomendações.

Cuidados que os consumidores devem adotar para evitar o contágio por SARS-CoV-2

– Durante as compras, evite o contato das mãos com os olhos, nariz e boca;

– Certifique-se que os carrinhos e cestinhas estão sendo frequentemente desinfetados; lavar as mãos ou usar álcool 70% antes de entrar e ao sair do mercado;

– Evite aglomerações em locais de compras e tente manter um distanciamento social de 1,5 metro das outras pessoas;

– Pague as compras com cartão. O dinheiro costuma ser mais manipulado;

– Conforme o Ministério da Saúde toda a população deve usar máscaras para sair de casa (a recomendação é de que a população confeccione suas próprias máscaras em casa);

– Ao chegar em casa com os produtos, faça a limpeza e desinfecção das frutas e verduras  com água e água sanitária (para cada litro de água, colocar uma colher de sopa de água sanitária). Deixe as frutas e verduras nessa solução por 15 minutos e depois lave bem em água corrente. As embalagens fechadas podem ser higienizadas com álcool 70% ou com água e detergente (para embalagens plásticas);

– Após limpeza das compras, higienize imediatamente as mãos com água e sabão – seguindo as etapas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa é a forma mais eficaz de eliminar do vírus;

– Use o álcool em gel como um complemento;

– Sempre optar por alimentos saudáveis e escolher produtos com qualidade sanitária;

– Sempre optar por produtos de origem animal que sejam inspecionados e com origem comprovada;

Ressaltamos que as agroindústrias registradas no Serviço de Inspeção Municipal de Teutônia contam, em sua grande maioria, com mão de obra predominantemente familiar e todas passaram por uma revisão nas medidas de segurança para evitar a entrada do vírus dentro da indústria. Se puder, consuma produtos locais. Reforçamos ainda, que não há evidências de transmissão do coronavírus através de alimentos. O principal risco está na manipulação dos alimentos por pessoas contaminadas com o vírus.

Fontes: Portal CFMV, OMS, Ministério da Saúde, Revista Higiene Alimentar.

Data de publicação: 20/04/2020

Créditos das Fotos: Pixabay/divulgação, arquivo pessoal